Isto é o Meu Corpo,1997-2002
O sol põe-se. A lua nasce. E apesar de conhecermos o sol e a lua bastante bem, sem nunca os termos estudado, é só nestas alturas crepusculares que continuamos a espantar-nos com a sua natureza extra-ordinária, com a sua estranheza. Talvez seja porque é apenas nesses momentos da sua emergência e do seu desaparecimento que conseguimos verdadeiramente vê-los, que eles compelem a nossa atenção. Com os seus desenhos e objectos de uso – com a sua arte de utilidade quotidiana – Marta Wengorovius também compele a nossa atenção, dirigindo-a na direcção de um objecto ou de uma imagem feitos por ela, mas apenas de forma a afastar-nos deles para melhor apreendermos o nosso olhar na sua qualidade de actividade imaginativa.
Imagem e olhar, objecto e imaginação: é através desta deflexão, deste movimento duplo, que a arte-uso de Wengorovius faz incidir simultaneamente a nossa atenção e o nosso interesse sobre ambos, o objecto olhado e o nosso olhar. A atenção que prestamos, ao que prestamos a nossa atenção, e como prestamos atenção, não podem ser separados uns dos outros na arte-uso de Wengorovius. Os objectos que Wengorovius fabrica e utiliza não são entidades externas contemplativas que parecem existir na sua completude, de forma autónoma, independentemente de qualquer funcionalidade (como, por exemplo, Theodore Adorno exige para uma arte crítica), nem são imagens que simplesmente capturam e absorvem a nossa atenção, exaurindo a nossa subjectividade no brilho ofuscante do seu fascínio interno (tal como Michael Fried estipula para a designação de «absorção»), nem pedem simplesmente que geremos as nossas próprias narrativas num teatro interno ocasionado pelo nosso encontro com eles (tal como na crítica do minimalismo de Fried). Na qualidade de objectos e de imagens para uso, as obras de Wengorovius são espelhos de atenção, que reflectem a própria atenção de volta para si própria, mas com uma transformação que a altera inteiramente do seu estado «natural» de interesse não refectivo; eles requerem um uso da própria imaginação para capturar a imaginação e algo mais para além dela.
Uso e reconhecimento interno, funcionalidade e uma deflexão da consciência «natural» como «consciência de…» não interrompida, acontecem simultaneamente na arte de Wengorovius, e em diálogo com o visitante dizem-lhe algo como: «aqui está uma linha, que não é muito diferente de algo que poderia ser encontrado numa pintura modernista tardia, ou num desenho de uma criança, e que é também, digamos, uma porta; veja-a como uma porta e passe através dela sabendo que está apenas a ver uma linha e que é graças à sua imaginação e à minha sugestão que a vê como uma porta, e observe-se a si próprio a imaginar que é assim e a dar o passo que o objecto enquanto tal não permite, mas que você e eu permitimos; experiencie esta liberdade e esta força da sua imaginação e observe-se a si próprio a experienciá-la…. Como é que isto o faz sentir? O que vê de si próprio ao fazê-lo?….». Esta ventriloquização dos objectos e instruções de Wengorovius não é nem explicativa do seu trabalho nem arbitrária.
O desdobramento de uma autoconsciência da experiência interna e da fantasia individual no objecto-uso, com uma sociabilidade prazenteira, é inteiramente característico da arte de Marta Wengorovius. Mas voltaremos a este convívio conversacional mais tarde. Antes de o fazermos, abordemos os termos da interligação do convívio e da imaginação, tão importantes na arte-uso de Wengorovius. Na Crítica da Razão Pura (1781/87), Immanuel Kant procura, a certo ponto, eliminar da verdade a possibilidade de uma ilusão não reconhecida apenas deduzida através do entendimento (‘Da aparência Transcendental’ (B349-355)). Kant refere que, a haver ilusão (a qual tem de existir) então esta deve ser entendida como uma ilusão e não de modo a desencaminhar-nos nem a ser entendida como verdade. A ilusão a que Kant se refere não é uma ilusão de óptica nem uma ilusão que se origina nos sentidos, mas uma ilusão que emana do interior da própria razão, dos nossos julgamentos sobre os objectos e não dos próprios objectos. Para Kant, os sentidos não julgam e, uma vez que a verdade e a ilusão apenas se podem originar a partir de julgamentos do entendimento, os sentidos não podem originar a ilusão. O erro que possa existir é consequência da «influência imperceptível» dos sentidos sobre o entendimento: «nem o entendimento por si só…, nem os sentidos por si sós, podem errar». A tarefa de Kant não era, por conseguinte, lidar com ilusões de óptica, nas quais o julgamento dos sentidos é «induzido em erro pela nossa imaginação», mas examinar e erradicar as ilusões que se originam a partir dos princípios puros do entendimento, ou aquilo a que chama a aparência transcendental. Mas não há necessidade de prolongar aqui as investigações de Kant, quanto mais não seja porque aquilo que é ultrapassado na análise transcendental são os julgamentos sobre as aparências do mundo, o que, evidentemente, é o terreno onde Wengorovius localiza a sua arte. A conjunção do sensorial com o entendimento é, precisamente, aquilo a que Kant chama «experiência» – e é no campo da experiência entendida neste preciso sentido, e também mais coloquialmente, que a arte-uso de Wengorovius é mobilizada. Apesar do seu interesse pelo transcendental na Crítica da Razão Pura, o próprio Kant talvez consentisse nas experiências de Wengorovius, e entrasse em diálogo com elas, dado que se volta para a experiência na tentativa de explicar a aparência transcendental: A aparência transcendental … não cessa, ainda mesmo depois de descoberta e claramente reconhecida a sua nulidade… E isto, porque na nossa razão… há regras fundamentais e máximas relativas ao seu uso, que possuem por completo o aspecto de princípios objectivos, pelo que sucede a necessidade subjectiva de uma certa ligação dos nossos conceitos, em favor do entendimento, passar por uma necessidade objectiva da determinação das coisas em si. Ilusão esta que é inevitável, assim como… o próprio astrónomo não pode evitar que a lua, ao nascer, lhe pareça maior, embora não se deixe enganar por essa aparência.
(B353-54) Trata-se de um movimento estranho da parte de Kant neste ponto da sua argumentação: o problema da aparência transcendental – um problema inerente ao próprio entendimento, sem referência à experiência nem aos sentidos – é um problema que surge devido ao que o próprio Kant refere parecerer a objectividade das regras do entendimento. A aparência transcendental surge porque esta objectividade é confundida com a dos objectos na experiência sensorial. A aparência transcendental é aquela que encara as regras da razão como objectos da experiência, o que elas não são. A razão não pode ser experienciada como tal. E a inevitabilidade da ilusão é semelhante à do astrónomo, que sabe muito bem que a lua é de determinado tamanho quando vista a partir da Terra, mas mesmo assim se deixa convencer pela sua aparência ampliada no momento em que ela nasce. A percepção sensorial do astrónomo sobrepõe-se à sua compreensão e ao seu conhecimento.
Assoberbado pelo que os sentidos lhe dizem, tem de fazer uma pausa para reflectir e reavaliar aquilo que vê de acordo com os seus conhecimentos. O astrónomo tem de reflectir sobre a ingenuidade da sua atenção. É aqui que podemos localizar a exigência que Wengorovius coloca sobre a atenção e a imaginação que a (in)forma: Wengorovius coloca os utilizadores da sua arte na posição do astrónomo mas sem a re-segurança da certeza do conhecimento ou objectividade que Kant invoca para fundamentar os julgamentos do entendimento, ou aquela em que o astrónomo se baseia para corrigir a sua percepção. A arte-uso de Wengorovius convida, insiste, na ilusão contra a qual Kant nos adverte e, simultaneamente, sem regras que a acalmem, força essa ilusão de volta para o campo da experiência de modo a ser avaliada e estabelecida através da experiência em vez de pela razão.
Esta mobilização da experiência é uma insistência na condição sensorial da ilusão e no trabalho que esta pode fazer para trazer a nossa atenção para a nossa atenção. É uma ilusão que se refere aos sentidos (e, desta forma, à estética) e não à razão pela sua avaliação, pelos seus julgamentos verdadeiros e adequados. Aqui existem apenas julgamentos que falam à conjunção instável entre os sentidos e o sujeito cognoscente que se oferece à imaginação. Estes julgamentos não são opiniões (dado que não se trata de conhecer qualquer coisa) nem ficções, e no entanto não podem ser verificados nem é possível atribuir-lhes razão. A imaginação que aqui funciona encontra-se liberta da «objectividade» das regras da razão; em vez disso, o seu sentido define-se na discussão da experiência na qual ele se produz e se manifesta através da atenção prestada ao objecto, uma experiência que é, imediatamente, múltipla. Estes são objectos sem uma objectividade racional. A ilusão objecto-imaginativa é uma base para a sociabilidade, para o convívio, para a discussão. Surge como experiência social, e não como experiência ligada à razão. A sua veracidade reside nesta partilha de experiências. E a sociabilidade desta libertação temporária do estético-imaginativo traz consigo a dimensão da re-invenção do campo social em termos de imaginação, em vez de ordem, razão e costumes estabelecidos. Trata-se, por um lado, da dimensão daquilo a que Michel de Certeau chamou a ‘prática da vida quotidiana’ – micro-resistências que dissipam as formas autorizadas de comportamento e interacção requeridas por uma determinada ordem social. Por outro lado, trata-se de uma «re-distribuição do sensível», como lhe chama Jacques Rancière, uma reconfiguração estético-imaginativa do social que altera o sentido do que o social pode tornar possível, daquilo que pode acontecer no e como o social. A arte-uso de Wengorovius sugere pelo menos isto: que o exercício da imaginação não só é travado pelo objecto mas também é libertado por ele, e que, a uma micro escala, esta libertação é uma exigência de repensar simultaneamente a naturalidade da nossa atenção aos objectos, a subordinação da imaginação compreensão desse objecto, e as formas possíveis de sociabilidade que são ocasionadas por esta exigência sobre a nossa atenção.
A atenção sobre a atenção requerida pelos objectos performativos da arte de Wengorovius pede-nos que reflictamos sobre o facto de a atenção sobre a atenção não ser um acto solipsista acessível apenas ao filósofo solitário orientado para as verdades racionais da ordenação cognitiva, mas um acto convivial no qual podemos apenas verificar-nos a nós próprios e à força da nossa relação com objectos por meio da verificação social das pequenas libertações da imaginação. Nisto existe uma exigência revolucionária, mesmo sendo proposta de modo necessariamente silente na arte de Wengorovius por meio de brincalhonas confrontações de uma linha, de uma pequena acção numa cidade, de um teste à nossa posição perceptual, da nossa confusão em relação à lua. A exigência tem de ser silenciosa porque aqui, sem razão, não pode existir um objectivo a atingir, não pode haver uma certeza num futuro melhor, mas apenas uma prevaricação do que tem de ser, de outra forma, tomado como objectivo. Este desejo revolucionário, uma revolução social sem ordem, é ao que a arte de Wengorovius nos impele.
Suhail Malik
9 Janeiro 2009
The sun sets. The moon rises. Even though you know the sun and the moon really well without ever having studied them, at these twilight times you are stunned by their extra-ordinariness, by how alien they are. Perhaps it is because only at these moments of their emergence and disappearance that you can actually see them, that they oblige you for your attention. With her drawings and objects of use – her art of everyday usefulness – Marta Wengorovius no less obligates our attention, directing it towards an object or an image of her making but only so as to draw us away from it and towards capturing our looking as the imaginative activity that it is.
Image and regard, object and imagination: by this deflection or double movement, w/’s use-art pivots our attention and interest on both object and our looking at once. The attention we pay, what we pay it to, and how we do so cannot be separated from one another in Wengorovius’s use-art. The objects Wengorovius fabricates and deploys are not contemplative external entities that would seem to exist in their full sense independently or autonomously of any functionality (as, say, Theodore Adorno demands for a critical art), nor are they images that simply capture and absorb your attention exhausting your subjectivity in the glare of their internal fascination (as Michael Fried stipulates under the name of ‘absorption’), nor do they simply ask you to generate your own narratives in an internal theatre occasioned by your encounter with them (such is Fried’s criticism of minimalism).
As objects and images for use, Wengorovius’s artworks are attention-mirrors, reflecting your attention back to itself but with a transformation that alters it entirely from its «natural» state of unreflective interest; they require a use of your imagination in order to capture your imagination and something beyond it. Use and internal recognition, functionality and a deflection of «natural» consciousness as an uninterrupted «consciousness of…», happen simultaneously in Wengorovius’s art whose conversation with you says something like: «here is a line, not unlike something you might find in a late-modernist painting or made by a child, and it is also, say, a door; see it as a door and go through it, knowing that you are only looking at a line and it is your imagination and my suggestion that you could see it as a door, and watch yourself imagining it as such and taking that step that the object as object does not itself permit but you and I do; experience this liberty and force of your imagination, and watch yourself experiencing it…. What does it feel like? What do you see of yourself in doing so?….».
Such a ventriloquzing of Wengorovius’s objects and instructions is neither explanatory of her work nor arbitrary. The folding of a selfconsciousness of internal experience and individual fantasy in object-use with a pleasurable sociability is entirely characteristic of Wengorovius’s art. Let us return to this conversational conviviality later. Before doing so, let us address the terms of the intermingling of conviviality and imagination so important to Wengorovius’s use-art. In the Critique of Pure Reason (1781/87), Immanuel Kant strives at a certain point to eliminate the possibility of unrecognized illusion from truth deduced through understanding alone («On Transcendental Illusion» (B349-355)). Kant says that if there is to be illusion (and there must be) then it is must be understood to be an illusion and not lead us astray nor come to be understood as a truth. The illusion Kant is concerned with is not an optical illusion or one that stems from the senses but one that emanates from within reason itself, from judgements about objects rather than objects themselves.
For Kant, the senses do not judge and since truth and illusion can only come from judgements of the understanding, the senses cannot give rise to illusion. What error there may be is a consequence of the «unnoticed influence» of the senses on the understanding: «neither the understanding on its own…, nor the senses by themselves would err». Kant’s task then is not to deal with optical illusions, in which judgement on the senses is «misled by the imagination», but to examine and root out illusions stemming from the pure principles of the understanding or what he calls transcendental illusion. There is no need to pursue Kant’s investigations any further here, if only because what are surpassed in the turn to the transcendental are judgements on appearances of the world, which is of course where Wengorovius locates her art. The conjunction of the sensory and the understanding is precisely what Kant calls «experience» – and it is in the field of experience understood in this precise sense and also more colloquially that Wengorovius’s use-art is mobilized. Despite his interest in the Critique of Pure Reason in the transcendental, Kant himself would perhaps consent to Wengorovius’s experiments and enter their conversation since he turns back to experience in attempting to explain transcendental illusion: Transcendental illusion … does not cease even when we have already uncovered it and have … distinct insight into its nullity.
The cause of this is that in our reason … there lie basic rules and maxims of its use that have entirely the look of objective principles; and through this it comes about that the subjective necessity of a certain connection of our concepts for the benefit of our understanding is regarded as an objective necessity of the determination of things in themselves. This is an illusion that we cannot at all avoid any more than … the astronomer can prevent the moon from seeming larger to him as it rises, although he is not deceived by this illusion. (B353-54) This is an odd move on Kant’s part at this point in his argument: the problem of transcendental illusion – a problem inherent to understanding itself without reference to experience and the senses – is a problem that arises because of what Kant says seem to be the objectivity of the rules of the understanding. Transcendental illusion arises because this objectivity is confounded for one similar to that of objects in sensory experience.
The transcendental illusion is that of mistaking the rules of reason as objects of experience, which they are not. Reason cannot be experienced as such. And the unavoidability of the illusion is similar to that of the astronomer who knows very well that the moon is a certain size when seen from Earth but is still convinced by its magnified appearance as it rises. The astronomer’s sensory perception overwhelms his understanding and knowledge. Overwhelmed by what his senses tell him, he has to pause to reflect on what he perceives and re-assess it in terms of his knowledge. The astronomer has to reflect on his naïve attention. It is here that we can locate the demand Wengorovius places on attention and the imagination that (in)forms it: Wengorovius puts the users of her art in the position of the astronomer but without the re-assurance of the certainty of knowledge or objectivity that Kant calls upon to ground the judgements of the understanding, or that the astronomer relies upon to correct their perception.
Wengorovius’s use-art invites insists upon the illusion that Kant warns against and, simultaneously, without rules to settle it, forces that illusion back into the field of experience to be reckoned on and settled through experience rather than reason. This mobilization of experience is an insistence on the sensory condition of illusion and the work it can do to bring attention to our attention. It is illusion referred to the senses (and hence aesthetics) rather than reason for its assessment, freed of true and proper judgements. Here, there are only judgements that speak to the unsettleable conjunction between the senses and the understanding subject to the imagination. These judgements are not opinions (since it is not a matter of knowing anything) nor fictions, yet cannot be verified or given reason. The imagination at work here is liberated from the «objectivity» of the rules of reason can; instead, its sense takes place in the discussion of the experience in which it arrives and makes itself manifest through the attention you pay to the object, an experience which is immediately multiple. These are objects without rational objectivity.
The object-imaginative illusion is a basis for sociality, conviviality, discussion. It takes place as a social experience, not one bound to reason. Its veracity lies in this sharing of experiences. And the sociality of this temporary liberation of the aesthetic-imaginative brings with it the dimension of the re-invention of the social field in terms of imagination rather than order, reason and established customs. This is on the one hand the dimension of what Michel de Certeau called the «practice of everyday life» – micro-resistances that dispel the authorized forms of behaviour and interaction required in the given social order. It is on the other hand a «redistribution of the sensible», as Jacques Rancière has called it, an aesthetic-imaginative reworking of the social that forces an altered sense of what the social may make possible, of what can happen in and as the social.
Wengorovius’s use-art suggests at least this: that the exercise of the imagination is not only arrested by the fact of the object but also liberated by it, and that at a micro-scale this liberation is a demand for rethinking simultaneously the naturalness of our attention to objects, the subordination of the imagination to the understanding of that object, and the possible forms of sociality that are occasioned by this demand upon our attention. The attention to attention required by the performative objects of Wengorovius’s art ask us to reflect that the attention to attention is not a solipsistic act available only to the solitary philosopher guided to rational truths of cognitive ordering, but a convivial act in which we can only verify ourselves and the force of our relation to objects through the social verification of the minor liberations of the imagination.
There is a revolutionary demand in this, be it proposed in a necessarily muted way in Wengorovius’s art through the playful confrontations of a line, a small action in a city, a testing of your perceptual position, your confusion at the moon. The demand has to be muted because here, without reason, there can be no purpose to serve, no certainty of a greater future, only a prevarication over what must otherwise be taken to be objective. This revolutionary wish, a social revolution without order, is what Wengorovius’s art instructs you towards.
Suhail Malik
9 Janeiro 2009
- + PT
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O sol põe-se. A lua nasce. E apesar de conhecermos o sol e a lua bastante bem, sem nunca os termos estudado, é só nestas alturas crepusculares que continuamos a espantar-nos com a sua natureza extra-ordinária, com a sua estranheza. Talvez seja porque é apenas nesses momentos da sua emergência e do seu desaparecimento que conseguimos verdadeiramente vê-los, que eles compelem a nossa atenção. Com os seus desenhos e objectos de uso – com a sua arte de utilidade quotidiana – Marta Wengorovius também compele a nossa atenção, dirigindo-a na direcção de um objecto ou de uma imagem feitos por ela, mas apenas de forma a afastar-nos deles para melhor apreendermos o nosso olhar na sua qualidade de actividade imaginativa.
Imagem e olhar, objecto e imaginação: é através desta deflexão, deste movimento duplo, que a arte-uso de Wengorovius faz incidir simultaneamente a nossa atenção e o nosso interesse sobre ambos, o objecto olhado e o nosso olhar. A atenção que prestamos, ao que prestamos a nossa atenção, e como prestamos atenção, não podem ser separados uns dos outros na arte-uso de Wengorovius. Os objectos que Wengorovius fabrica e utiliza não são entidades externas contemplativas que parecem existir na sua completude, de forma autónoma, independentemente de qualquer funcionalidade (como, por exemplo, Theodore Adorno exige para uma arte crítica), nem são imagens que simplesmente capturam e absorvem a nossa atenção, exaurindo a nossa subjectividade no brilho ofuscante do seu fascínio interno (tal como Michael Fried estipula para a designação de «absorção»), nem pedem simplesmente que geremos as nossas próprias narrativas num teatro interno ocasionado pelo nosso encontro com eles (tal como na crítica do minimalismo de Fried). Na qualidade de objectos e de imagens para uso, as obras de Wengorovius são espelhos de atenção, que reflectem a própria atenção de volta para si própria, mas com uma transformação que a altera inteiramente do seu estado «natural» de interesse não refectivo; eles requerem um uso da própria imaginação para capturar a imaginação e algo mais para além dela.
Uso e reconhecimento interno, funcionalidade e uma deflexão da consciência «natural» como «consciência de…» não interrompida, acontecem simultaneamente na arte de Wengorovius, e em diálogo com o visitante dizem-lhe algo como: «aqui está uma linha, que não é muito diferente de algo que poderia ser encontrado numa pintura modernista tardia, ou num desenho de uma criança, e que é também, digamos, uma porta; veja-a como uma porta e passe através dela sabendo que está apenas a ver uma linha e que é graças à sua imaginação e à minha sugestão que a vê como uma porta, e observe-se a si próprio a imaginar que é assim e a dar o passo que o objecto enquanto tal não permite, mas que você e eu permitimos; experiencie esta liberdade e esta força da sua imaginação e observe-se a si próprio a experienciá-la…. Como é que isto o faz sentir? O que vê de si próprio ao fazê-lo?….». Esta ventriloquização dos objectos e instruções de Wengorovius não é nem explicativa do seu trabalho nem arbitrária.
O desdobramento de uma autoconsciência da experiência interna e da fantasia individual no objecto-uso, com uma sociabilidade prazenteira, é inteiramente característico da arte de Marta Wengorovius. Mas voltaremos a este convívio conversacional mais tarde. Antes de o fazermos, abordemos os termos da interligação do convívio e da imaginação, tão importantes na arte-uso de Wengorovius. Na Crítica da Razão Pura (1781/87), Immanuel Kant procura, a certo ponto, eliminar da verdade a possibilidade de uma ilusão não reconhecida apenas deduzida através do entendimento (‘Da aparência Transcendental’ (B349-355)). Kant refere que, a haver ilusão (a qual tem de existir) então esta deve ser entendida como uma ilusão e não de modo a desencaminhar-nos nem a ser entendida como verdade. A ilusão a que Kant se refere não é uma ilusão de óptica nem uma ilusão que se origina nos sentidos, mas uma ilusão que emana do interior da própria razão, dos nossos julgamentos sobre os objectos e não dos próprios objectos. Para Kant, os sentidos não julgam e, uma vez que a verdade e a ilusão apenas se podem originar a partir de julgamentos do entendimento, os sentidos não podem originar a ilusão. O erro que possa existir é consequência da «influência imperceptível» dos sentidos sobre o entendimento: «nem o entendimento por si só…, nem os sentidos por si sós, podem errar». A tarefa de Kant não era, por conseguinte, lidar com ilusões de óptica, nas quais o julgamento dos sentidos é «induzido em erro pela nossa imaginação», mas examinar e erradicar as ilusões que se originam a partir dos princípios puros do entendimento, ou aquilo a que chama a aparência transcendental. Mas não há necessidade de prolongar aqui as investigações de Kant, quanto mais não seja porque aquilo que é ultrapassado na análise transcendental são os julgamentos sobre as aparências do mundo, o que, evidentemente, é o terreno onde Wengorovius localiza a sua arte. A conjunção do sensorial com o entendimento é, precisamente, aquilo a que Kant chama «experiência» – e é no campo da experiência entendida neste preciso sentido, e também mais coloquialmente, que a arte-uso de Wengorovius é mobilizada. Apesar do seu interesse pelo transcendental na Crítica da Razão Pura, o próprio Kant talvez consentisse nas experiências de Wengorovius, e entrasse em diálogo com elas, dado que se volta para a experiência na tentativa de explicar a aparência transcendental: A aparência transcendental … não cessa, ainda mesmo depois de descoberta e claramente reconhecida a sua nulidade… E isto, porque na nossa razão… há regras fundamentais e máximas relativas ao seu uso, que possuem por completo o aspecto de princípios objectivos, pelo que sucede a necessidade subjectiva de uma certa ligação dos nossos conceitos, em favor do entendimento, passar por uma necessidade objectiva da determinação das coisas em si. Ilusão esta que é inevitável, assim como… o próprio astrónomo não pode evitar que a lua, ao nascer, lhe pareça maior, embora não se deixe enganar por essa aparência.
(B353-54) Trata-se de um movimento estranho da parte de Kant neste ponto da sua argumentação: o problema da aparência transcendental – um problema inerente ao próprio entendimento, sem referência à experiência nem aos sentidos – é um problema que surge devido ao que o próprio Kant refere parecerer a objectividade das regras do entendimento. A aparência transcendental surge porque esta objectividade é confundida com a dos objectos na experiência sensorial. A aparência transcendental é aquela que encara as regras da razão como objectos da experiência, o que elas não são. A razão não pode ser experienciada como tal. E a inevitabilidade da ilusão é semelhante à do astrónomo, que sabe muito bem que a lua é de determinado tamanho quando vista a partir da Terra, mas mesmo assim se deixa convencer pela sua aparência ampliada no momento em que ela nasce. A percepção sensorial do astrónomo sobrepõe-se à sua compreensão e ao seu conhecimento.
Assoberbado pelo que os sentidos lhe dizem, tem de fazer uma pausa para reflectir e reavaliar aquilo que vê de acordo com os seus conhecimentos. O astrónomo tem de reflectir sobre a ingenuidade da sua atenção. É aqui que podemos localizar a exigência que Wengorovius coloca sobre a atenção e a imaginação que a (in)forma: Wengorovius coloca os utilizadores da sua arte na posição do astrónomo mas sem a re-segurança da certeza do conhecimento ou objectividade que Kant invoca para fundamentar os julgamentos do entendimento, ou aquela em que o astrónomo se baseia para corrigir a sua percepção. A arte-uso de Wengorovius convida, insiste, na ilusão contra a qual Kant nos adverte e, simultaneamente, sem regras que a acalmem, força essa ilusão de volta para o campo da experiência de modo a ser avaliada e estabelecida através da experiência em vez de pela razão.
Esta mobilização da experiência é uma insistência na condição sensorial da ilusão e no trabalho que esta pode fazer para trazer a nossa atenção para a nossa atenção. É uma ilusão que se refere aos sentidos (e, desta forma, à estética) e não à razão pela sua avaliação, pelos seus julgamentos verdadeiros e adequados. Aqui existem apenas julgamentos que falam à conjunção instável entre os sentidos e o sujeito cognoscente que se oferece à imaginação. Estes julgamentos não são opiniões (dado que não se trata de conhecer qualquer coisa) nem ficções, e no entanto não podem ser verificados nem é possível atribuir-lhes razão. A imaginação que aqui funciona encontra-se liberta da «objectividade» das regras da razão; em vez disso, o seu sentido define-se na discussão da experiência na qual ele se produz e se manifesta através da atenção prestada ao objecto, uma experiência que é, imediatamente, múltipla. Estes são objectos sem uma objectividade racional. A ilusão objecto-imaginativa é uma base para a sociabilidade, para o convívio, para a discussão. Surge como experiência social, e não como experiência ligada à razão. A sua veracidade reside nesta partilha de experiências. E a sociabilidade desta libertação temporária do estético-imaginativo traz consigo a dimensão da re-invenção do campo social em termos de imaginação, em vez de ordem, razão e costumes estabelecidos. Trata-se, por um lado, da dimensão daquilo a que Michel de Certeau chamou a ‘prática da vida quotidiana’ – micro-resistências que dissipam as formas autorizadas de comportamento e interacção requeridas por uma determinada ordem social. Por outro lado, trata-se de uma «re-distribuição do sensível», como lhe chama Jacques Rancière, uma reconfiguração estético-imaginativa do social que altera o sentido do que o social pode tornar possível, daquilo que pode acontecer no e como o social. A arte-uso de Wengorovius sugere pelo menos isto: que o exercício da imaginação não só é travado pelo objecto mas também é libertado por ele, e que, a uma micro escala, esta libertação é uma exigência de repensar simultaneamente a naturalidade da nossa atenção aos objectos, a subordinação da imaginação compreensão desse objecto, e as formas possíveis de sociabilidade que são ocasionadas por esta exigência sobre a nossa atenção.
A atenção sobre a atenção requerida pelos objectos performativos da arte de Wengorovius pede-nos que reflictamos sobre o facto de a atenção sobre a atenção não ser um acto solipsista acessível apenas ao filósofo solitário orientado para as verdades racionais da ordenação cognitiva, mas um acto convivial no qual podemos apenas verificar-nos a nós próprios e à força da nossa relação com objectos por meio da verificação social das pequenas libertações da imaginação. Nisto existe uma exigência revolucionária, mesmo sendo proposta de modo necessariamente silente na arte de Wengorovius por meio de brincalhonas confrontações de uma linha, de uma pequena acção numa cidade, de um teste à nossa posição perceptual, da nossa confusão em relação à lua. A exigência tem de ser silenciosa porque aqui, sem razão, não pode existir um objectivo a atingir, não pode haver uma certeza num futuro melhor, mas apenas uma prevaricação do que tem de ser, de outra forma, tomado como objectivo. Este desejo revolucionário, uma revolução social sem ordem, é ao que a arte de Wengorovius nos impele.
Suhail Malik
9 Janeiro 2009 - + EN
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The sun sets. The moon rises. Even though you know the sun and the moon really well without ever having studied them, at these twilight times you are stunned by their extra-ordinariness, by how alien they are. Perhaps it is because only at these moments of their emergence and disappearance that you can actually see them, that they oblige you for your attention. With her drawings and objects of use – her art of everyday usefulness – Marta Wengorovius no less obligates our attention, directing it towards an object or an image of her making but only so as to draw us away from it and towards capturing our looking as the imaginative activity that it is.
Image and regard, object and imagination: by this deflection or double movement, w/’s use-art pivots our attention and interest on both object and our looking at once. The attention we pay, what we pay it to, and how we do so cannot be separated from one another in Wengorovius’s use-art. The objects Wengorovius fabricates and deploys are not contemplative external entities that would seem to exist in their full sense independently or autonomously of any functionality (as, say, Theodore Adorno demands for a critical art), nor are they images that simply capture and absorb your attention exhausting your subjectivity in the glare of their internal fascination (as Michael Fried stipulates under the name of ‘absorption’), nor do they simply ask you to generate your own narratives in an internal theatre occasioned by your encounter with them (such is Fried’s criticism of minimalism).
As objects and images for use, Wengorovius’s artworks are attention-mirrors, reflecting your attention back to itself but with a transformation that alters it entirely from its «natural» state of unreflective interest; they require a use of your imagination in order to capture your imagination and something beyond it. Use and internal recognition, functionality and a deflection of «natural» consciousness as an uninterrupted «consciousness of…», happen simultaneously in Wengorovius’s art whose conversation with you says something like: «here is a line, not unlike something you might find in a late-modernist painting or made by a child, and it is also, say, a door; see it as a door and go through it, knowing that you are only looking at a line and it is your imagination and my suggestion that you could see it as a door, and watch yourself imagining it as such and taking that step that the object as object does not itself permit but you and I do; experience this liberty and force of your imagination, and watch yourself experiencing it…. What does it feel like? What do you see of yourself in doing so?….».
Such a ventriloquzing of Wengorovius’s objects and instructions is neither explanatory of her work nor arbitrary. The folding of a selfconsciousness of internal experience and individual fantasy in object-use with a pleasurable sociability is entirely characteristic of Wengorovius’s art. Let us return to this conversational conviviality later. Before doing so, let us address the terms of the intermingling of conviviality and imagination so important to Wengorovius’s use-art. In the Critique of Pure Reason (1781/87), Immanuel Kant strives at a certain point to eliminate the possibility of unrecognized illusion from truth deduced through understanding alone («On Transcendental Illusion» (B349-355)). Kant says that if there is to be illusion (and there must be) then it is must be understood to be an illusion and not lead us astray nor come to be understood as a truth. The illusion Kant is concerned with is not an optical illusion or one that stems from the senses but one that emanates from within reason itself, from judgements about objects rather than objects themselves.
For Kant, the senses do not judge and since truth and illusion can only come from judgements of the understanding, the senses cannot give rise to illusion. What error there may be is a consequence of the «unnoticed influence» of the senses on the understanding: «neither the understanding on its own…, nor the senses by themselves would err». Kant’s task then is not to deal with optical illusions, in which judgement on the senses is «misled by the imagination», but to examine and root out illusions stemming from the pure principles of the understanding or what he calls transcendental illusion. There is no need to pursue Kant’s investigations any further here, if only because what are surpassed in the turn to the transcendental are judgements on appearances of the world, which is of course where Wengorovius locates her art. The conjunction of the sensory and the understanding is precisely what Kant calls «experience» – and it is in the field of experience understood in this precise sense and also more colloquially that Wengorovius’s use-art is mobilized. Despite his interest in the Critique of Pure Reason in the transcendental, Kant himself would perhaps consent to Wengorovius’s experiments and enter their conversation since he turns back to experience in attempting to explain transcendental illusion: Transcendental illusion … does not cease even when we have already uncovered it and have … distinct insight into its nullity.
The cause of this is that in our reason … there lie basic rules and maxims of its use that have entirely the look of objective principles; and through this it comes about that the subjective necessity of a certain connection of our concepts for the benefit of our understanding is regarded as an objective necessity of the determination of things in themselves. This is an illusion that we cannot at all avoid any more than … the astronomer can prevent the moon from seeming larger to him as it rises, although he is not deceived by this illusion. (B353-54) This is an odd move on Kant’s part at this point in his argument: the problem of transcendental illusion – a problem inherent to understanding itself without reference to experience and the senses – is a problem that arises because of what Kant says seem to be the objectivity of the rules of the understanding. Transcendental illusion arises because this objectivity is confounded for one similar to that of objects in sensory experience.
The transcendental illusion is that of mistaking the rules of reason as objects of experience, which they are not. Reason cannot be experienced as such. And the unavoidability of the illusion is similar to that of the astronomer who knows very well that the moon is a certain size when seen from Earth but is still convinced by its magnified appearance as it rises. The astronomer’s sensory perception overwhelms his understanding and knowledge. Overwhelmed by what his senses tell him, he has to pause to reflect on what he perceives and re-assess it in terms of his knowledge. The astronomer has to reflect on his naïve attention. It is here that we can locate the demand Wengorovius places on attention and the imagination that (in)forms it: Wengorovius puts the users of her art in the position of the astronomer but without the re-assurance of the certainty of knowledge or objectivity that Kant calls upon to ground the judgements of the understanding, or that the astronomer relies upon to correct their perception.
Wengorovius’s use-art invites insists upon the illusion that Kant warns against and, simultaneously, without rules to settle it, forces that illusion back into the field of experience to be reckoned on and settled through experience rather than reason. This mobilization of experience is an insistence on the sensory condition of illusion and the work it can do to bring attention to our attention. It is illusion referred to the senses (and hence aesthetics) rather than reason for its assessment, freed of true and proper judgements. Here, there are only judgements that speak to the unsettleable conjunction between the senses and the understanding subject to the imagination. These judgements are not opinions (since it is not a matter of knowing anything) nor fictions, yet cannot be verified or given reason. The imagination at work here is liberated from the «objectivity» of the rules of reason can; instead, its sense takes place in the discussion of the experience in which it arrives and makes itself manifest through the attention you pay to the object, an experience which is immediately multiple. These are objects without rational objectivity.
The object-imaginative illusion is a basis for sociality, conviviality, discussion. It takes place as a social experience, not one bound to reason. Its veracity lies in this sharing of experiences. And the sociality of this temporary liberation of the aesthetic-imaginative brings with it the dimension of the re-invention of the social field in terms of imagination rather than order, reason and established customs. This is on the one hand the dimension of what Michel de Certeau called the «practice of everyday life» – micro-resistances that dispel the authorized forms of behaviour and interaction required in the given social order. It is on the other hand a «redistribution of the sensible», as Jacques Rancière has called it, an aesthetic-imaginative reworking of the social that forces an altered sense of what the social may make possible, of what can happen in and as the social.
Wengorovius’s use-art suggests at least this: that the exercise of the imagination is not only arrested by the fact of the object but also liberated by it, and that at a micro-scale this liberation is a demand for rethinking simultaneously the naturalness of our attention to objects, the subordination of the imagination to the understanding of that object, and the possible forms of sociality that are occasioned by this demand upon our attention. The attention to attention required by the performative objects of Wengorovius’s art ask us to reflect that the attention to attention is not a solipsistic act available only to the solitary philosopher guided to rational truths of cognitive ordering, but a convivial act in which we can only verify ourselves and the force of our relation to objects through the social verification of the minor liberations of the imagination.
There is a revolutionary demand in this, be it proposed in a necessarily muted way in Wengorovius’s art through the playful confrontations of a line, a small action in a city, a testing of your perceptual position, your confusion at the moon. The demand has to be muted because here, without reason, there can be no purpose to serve, no certainty of a greater future, only a prevarication over what must otherwise be taken to be objective. This revolutionary wish, a social revolution without order, is what Wengorovius’s art instructs you towards.
Suhail Malik
9 Janeiro 2009